Acessibilidade na arquitetura e no transporte vertical


A acessibilidade na arquitetura vai muito além de atender as exigências descritas nas legislações vigentes, ela deve ser pensada para incluir pessoas.

No contexto urbano, tanto a edificação quanto o ambiente que o cerca devem ter um projeto que siga as exigências descritas na Lei de Acessibilidade mas, acima disso, o projeto de arquitetura é uma responsabilidade social ligada ao direito de ir e vir, à individualidade e independência do usuário.

A edificação deve garantir o acesso a qualquer pessoa, em qualquer fase da vida, seja ela uma criança, um jovem, um idoso, gestante ou obeso, com mobilidade reduzida permanente ou temporária, com deficiência física ou intelectual, ou em plena condição motora.

O conceito do desenho universal começou a ser discutido após a Segunda Guerra Mundial, quando um grupo de profissionais analisou que o desenho urbano e suas edificações estavam repletos de barreiras que impediam a circulação da população que chegava com sequelas.

O tema ganhou força no Brasil a partir da década de 80, quando os estudos de novas regulamentações foi iniciado. A nossa Constituição, publicada em 1988 já tinha como objetivo garantir os direitos sociais e individuais das pessoas no Brasil, inclusive das pessoas com deficiência. No ano de 1991 foi publicada a Lei que passou a garantir uma cota de participação no mercado de trabalho. Já a Lei 10.098 foi sancionada no ano 2000 e foi a primeira totalmente voltada à acessibilidade, sendo complementada pelo Decreto nº 5296, que finalmente tiveram seus conteúdos organizados no manual da ABNT 9050, que descreve os padrões de acessibilidade em vigor que devem ser aplicados em qualquer projeto ou edificação.


Atualmente temos no Brasil uma população com 27 milhões de deficientes físicos e mais de 19 milhões de idosos. Segundo as projeções, os números de idosos tendem a crescer rapidamente. Isso faz com que aplicação das regras de acessibilidade sejam prioridade em todos os setores da construção e urbanismo.

São muitas as características que devem ser observadas ao analisar a acessibilidade de um espaço ou edificação, visto que devemos atender aos vários tipos de deficiências no mesmo ambiente.

Alguns projetos ainda aplicam soluções pontuais, sem considerar o planejamento do todo e resultando em espaços não inclusivos.

Desde a escolha dos revestimentos, cores, acessórios e equipamentos urbanos, até a definição de dimensões dos espaços, qualquer item deve ser definido tendo como prioridade a acessibilidade, garantindo a inclusão e democratização de uso dos espaços públicos e privados.

O projeto de arquitetura acessível deve atender às Normas Técnicas de Acessibilidade em sua amplitude, sendo destacados abaixo apenas algumas das exigências.

Acessos externos inclusivos
- pisos regulares, firmes e estáveis, com revestimento anti derrapante em qualquer situação climática;
- rampas com largura de 1,20m ou equipamentos apropriados (elevadores e plataformas elevatórias);
- piso tátil;
- corrimão;
- mapas táteis (para orientação aos que possuem baixa visão)

Dimensões adequadas
- corredores e circulação interna com o mínimo de 90cm de largura;
- percurso livre de obstáculos com altura mínima de 2,10m;
- portas e vãos de passagem com largura mínima de 80cm;
- área livre de 1,50m de diâmetro para garantir o giro 360º da cadeira de rodas;
- patamares de 1,20m de comprimento antes do início de rampas

Instalações e acessórios
- iluminação equilibrada (não deve ofuscar e nem ser insuficiente)
- altura adequada das tomadas e interruptores
- peças sanitárias acessíveis
- metais acionados por alavancas e com temporizadores
- instalação de barras de apoio

Estética e funcionalidade
- eliminar tapetes e revestimentos que dificultem a circulação de cadeira de rodas e andadores
- optar por móveis fixos, estáveis e com cantos arredondados
- restringir o mobiliário ao estritamente necessário, mantendo a estética e funcionalidade;
- utilizar cores contrastantes entre os móveis, portas, paredes e rodapés.

 O transporte vertical na acessibilidade

Um item fundamental na discussão da acessibilidade é quando tratamos dos deslocamentos verticais.

O que fazer quando nos deparamos com o projeto de reforma de uma residência ou comércio, que deverá se adaptar às regras de acessibilidade, e onde não há espaço físico para a execução de uma rampa de acesso? Neste caso, temos que buscar opções eletromecânicas para vencer estes desníveis.

No mercado temos soluções que podem ser aplicadas em situações variadas:

- elevadores convencionais, que encontramos nos edifícios residenciais e comerciais;

- plataforma de acessibilidade, normalmente instalada nos acessos dos edifícios residenciais que não tem espaço para execução de rampas na entrada;

- plataforma para escadas, mais utilizada em residências, para o deslocamento em níveis inclinados;

- cadeira elevador – para escadas
  
- elevador hidráulico – o a opção mais antiga para residências ainda é o mais econômico, mas precisa de espaço para fosso e casa de máquinas.

- elevador elétrico – indicado para residências - sem casa de máquinas e o mais silencioso de todos, precisa de um rebaixo no piso para ser instalado, conforme especificação do fabricante;


- elevador pneumático – também indicado para uso residencial - requer pequeno desnível para sua instalação e sua vantagem é a dimensão reduzida, podendo ser mais compacto que os demais.

 

- Elevador para piscinas
 

A Tecnologia a favor da Acessibilidade

Além dos itens já mencionados, o arquiteto não deve se restringir à aplicação da Norma Técnica, ele deve ir além, deve sempre acompanhar as tendências do mercado para garantir um projeto cada vez mais atualizado e inovador.

Neste sentido, a tecnologia pode contribuir muito para ampliar o nível de autonomia e aumentar a qualidade de vida para quem busca aplicar a acessibilidade às suas residências.

As tecnologias residenciais são mais comuns do que imaginamos e já podem estar presentes em nossas casas no formato de um sensor de iluminação, uma câmera de segurança ou até mesmo na TV da sala.

Alguns equipamentos que podem aumentar a autonomia numa residência são:
- controle de iluminação;
- controle de utilidades (cortinas motorizadas, portas e portões automáticos, irrigação, etc)
- sensores de vazamento de gás ou fumaça;
- sensores de presença e movimento;
- câmeras de monitoramento;
- dispositivos portáteis de monitoramento de saúde;
- termostatos;
- rede de internet confiável e estável.

Grandes empresas como a Google e Amazon estão aperfeiçoando seus assistentes virtuais, facilitando a integração com estes equipamentos inteligentes, tornando mais fácil a interface do usuário com essas tecnologias.

Porém, quando falamos de acessibilidade até o óbvio se torna duvidoso. Será que comandar a casa através de controle de voz é a forma mais democrática? A resposta é não! Apesar de parecer natural oferecer apenas a tecnologia ativada por voz para facilitar a interface com os equipamentos inteligentes, devemos nos lembrar que as tecnologias baseadas em tablet podem ser essenciais para os indivíduos com dificuldades auditivas ou de fala. Desta forma, a melhor plataforma de tecnologia a ser escolhida, deve ser aquela que permita ao usuário optar pela interface que melhor o atenda.

No mercado, podemos encontrar muitas opções de tecnologias residenciais que não foram desenvolvidas especificamente para acessibilidade, mas que acabam tendo sua aplicação direcionada a este fim.

Numa visão mais futurista, já estão em desenvolvimento tecnologias de controle telepático e auxílio a movimentos, que possibilitam (por exemplo) abrir a geladeira através do pensamento. Enquanto isso não acontece, nos cabe observar e acompanhar as evoluções deste mercado tão promissor!

Virginia Rodrigues
Arquiteta e Urbanista
Arquiteta especializada em acessibilidade e tecnologias residenciais.


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